O significado de um texto nunca é determinado apenas por fatos acerca do autor e de seu público original; é, de igual modo, determinado pela situação histórica do intérprete. A metáforamais usada nesse contexto é a da "fusão de horizontes", que surge quando o autor, historicamente situado, e o leitor, também historicamente situado, conseguem compartilhar um significado. Abre-se, assim, a possibilidade de uma reinterpretação e de uma reavaliação constantes, à medida que diferentes significados forem sendo projetados para a obra em causa. Imagino alguém que escreve um livro, registrando um tipo particular de pensamento, ao qual pretende dar um nome; enquanto o pensamento for concebido como puramente privado, sem qualquer conexão com comportamentos ou sintomas de sua ocorrência, o processo é uma pantomina, uma vez que o autor não consegue fornecer a si mesmo uma compreensão determinada do que está fazendo. Não há qualquer distinção entre estar realmente certo, ao registrar um episódio ostensivo, e parecer que se está certo, a mente não pode ser concebida como um teatro interno, cujo espetáculo é conhecido de uma maneira privilegiada e única pelo seu dono. Ou seja, isto tudo que estou pensando não são pensamentos de fato, é literatura, algo que eu estou lendo ou alguém está escrevendo.