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18 de outubro de 2007

Necrografia


Quando morri um anjo reto e exemplar
Desses que vivem na luz sempre planando
Disse vem Davis ser droite na morte ímpar

Minha última esperança desencarnando
Apenas preparei meu esqueleto para o ar
Essa minha alma já estava me esperando

Meu falecimento fez mais de um chorar
Não precisava que já não os vejo orando
É pena não poder ninguém mais consolar

Existir para mim nunca foi algo brando
A minha ausência já foi feita para durar
E meu cadáver durará até não sei quando

Não precisa dar banho ou até me maquiar
Com a rigidez do caixão já estava ficando
O cheiro de podre já estava a se espalhar

Melhor não procrastinar mais me velando
Chegaram até mesmo a cogitar me enterrar
Mas felizmente eles acabaram me cremando

Estava nu com duas moedas sobre o olhar
E já não era minha chama me consumando
Em um pó cinza eu estava a me transformar

Para que meus amigos a cidade sobrevoando
Estes restos de mim na urna os possam lançar
Para meus inimigos acabarem se engasgando