Na noite escura, caminho desenluarado sem rumo certo, o vento brando a me impelir soprando de trás, amena temperatura a menos que esfrie mais. Grilos, sapos e cigarras calam o silêncio povoando o breu com seus sons geométricos. Os pés roçam a grama que não farfalha mais do que a relva mediana que acaricio com as costas das mãos. Sutil, o plano se inclina e sem engano elevo minha calma, paralelamente ao esforço. Penso em atingir o cume sem olhar para trás. Sei de cada passo; a perna que pisou por último é o próximo passo. Galgo, no topo, a visão de uma escuridão onde posso me perder se não quiser esperar sentado pelo meu despertar, o despertar do dia. Sem meta e sem pista paro, indeciso. Então grito:
- Haja luz!
E do mato ouriçado vem um clamor silvestre de vida, o regozijo existencial da natura profanada em seu sono, bravia que brilha. No pretume noturno vejo pequeninos pontos de volátil incandescência emanarem mágicos da erva como fabulosos fogos fátuos que vêm a mim e me cercam enxameando meus olhos pisca-piscantes de incredulidade. Iluminam a caminhada acompanhando-me rumo a algum caminho certo; sigo sem parar novamente, mais e mais lento, sem pessa e rumando apenas, a medida em que vou colhendo do ar os vaga-lumes para fumá-los com deleite fantástico, soprando na brisa uma fumaça de sonho pirilampejante.