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16 de fevereiro de 2009

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5 de fevereiro de 2009

Sob a pele


O sol se punha lentamente no horizonte e o tédio da tarde parecia anunciar nos tons do amarelo ao vermelho do céu que ele se iria com a nossa paz medieval de casal. Segunda-feira de ressaca após um feriado movimentado, faltamos ao trabalho.

Cúmplices do que um do outro ainda não podíamos saber, sendo ainda tão recente a nossa união, eu me achava ameno e ela talvez fosse muita areia para o meu caminhão. Havíamos acabado de nos conhecer. Ela muito bonita e misteriosa, calada como eu, mas com um ar menos seguro do que quer, mas mais seguro do que é; olhos excitantes de quem oculta deliciosas crueldades. Ela me dera meu maior porre de vinho, meu maior banho de vinho, ao luar no luau, na praia em meio a fogueira a me tatuar nas costas com as unhas palavras obscenas numa língua secreta, língua dela na minha orelha a sussurrar encantamentos com que me seduziu, mãos mágicas a me preparar. Fizemos amor por três vezes entre a hora em que os violões que nos apresentaram descansaram e o nascer de mais um dia de sol, mas não antes dela me fazer ouvir uma série de acusações e julgamentos aos quais, bêbado, finji prestar atenção, chegando a me confessar admitindo-me culpado, mesmo sem saber do quê, logo jurei o que me pedia pois eu queria logo o que sabia que em seguida viria.

As mulheres eu não as entendo como nenhum homem entende, pois sou como os homens um homem qualquer, ela não, pois como todas as outras, é mulher.

Agora, no quarto de hotel, sobre o chão namorávamos depois de termos acordado tarde e fumado unzinho após o almoço farto, acariciávamos-nos as peles bronzeadas, lânguido eu de tanto comer e compenetrada ela de tanto fumar.

Atencioso querendo transar de novo eu descascava a pele das costas dela, como me pedira, queimada do sol. Tirava tiras, longas e finas umas, outras em blocos grandes com as duas mãos; deixava-a rosa e branca, bicolor em sua ambiguidade. E ela tirava do que tirava dela mais prazer do que eu poderia tirar: voluptuosa, dizia gostar quando eu a beliscava com os dedos em pinça, buscando na carne o início da pele, a sentir uma sua parte a se desvancilhar dela, o som elástico da derme desprendendo-se, as tremelicantes cóceguinhas que o ar lhe fazia ao tocar-lhe a camada mais sensível, aparentemente frágil e desprotegida.

Ambivalente no regozijo de femeazinha em meio às minhas ternas atenções, fazendo-me seu tenro escravo. Objeto lascivo desnudando-se sob olhar de quem se imagina sujeito.

Quando terminei afastei-me um pouco, com estudada seriedade, ficando apenas a alizar-lhe a coxa arrepiada; ela sentou-se se endireitando em frente ao cinzeiro, onde depositei seus restos. Pôs-se a brincar com os despojos, observando os minúsculos buraquinhos deixados pelos pelos, a estranhíssima transparência delicada... cheirava-as reconhecendo-se no perfume almiscarado quase sulfúrico que eu adoro, enquanto sentia nas pontas dos dedos sua textura a se grudar e desgrudar. Ela toda era eterna e tola. Interessante, eu achava, interessada.

Desinteressado eu achava graça comigo mesmo pois era mesmo graciosa em seu brincado. Do alto de sua sabedoria conquistada, aprendiz de seus apêndices, ela parou com tudo com o olhar aparando o nada; olhou-me uma vez afinal e agradeceu, “de nada” eu disse e ela, “como nada? há que se valorizar esse tipo de experiência”, disse como se para si dissesse; para mim não tomei a coisa e fiz-me enfadado; com birra acendeu com gestos bruscos um cigarro, entretendo-se com o queimar do fósforo até que se extinguisse meu desdém.

Novamente cativo ela me tinha atento a mirar-lhe os movimentos, ávido por qualquer migalha sua. Queria saber-me sempre suspenso na expectativa do que ela poderia fazer a seguir. Na tensão do tesão da atenção. Eu não fingia que não a via e ela empíricamente se exibia.

Ao final da chama o palito fez-se lápis de cor brasil, o qual ela usou para perfurar a pele extraída e logo rasgá-la e então mais uma vez se motivar. Com o cigarro podia torturar melhor. A coisa toda ia ficando como um torresminho indigesto, macabro em sua tonalidade de marrom amarelado. Seu sorriso maroto delineava-se mais e mais a cada novo fósforo que riscava, sádica. Masoquista, eu me encolhia. Queimava lúdica como a si mesma ensimesmada e lúbrica de si indefesa. De dar aflição, medo. Fazia-me encobrir por uma fumaça tórrida, torrando mórbida seus restos humanos. O que lhe resta de humano? Quando o ambiente pareceu esvaziar-se da vida consumida no cheiro de morte que nos preenchia achei que a reconhecia. Ela é assim, eu preciso reconhecer, estou vencido e muito aquém de seu juízo. Sentia-me fraco. Ela se divertia consigo torturando a mim. Percebi-me perdido, cativo. Tudo era já um aroma amargo de gente queimando... eu queria fujir, mas logo viria a desmaiar vitimado pela visão arrepiante diante do sombrio fumarento fio galgando lento o ar que subia-me à mente, impressionado que estava com o som crepitante do riso dela, que já completamente desvairada gargalhava, como se ao mesmo tempo pudesse ser bruxa e inquisidor.