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26 de outubro de 2010

Op 1



cem te olhares
bolinhas plenas duas de veneno castanho
cansaço e sono
a destrancar meu crânio, ampliar o plexo
cachimbofone
tocando fundo o que jaz abstinindo em ti
a pele amarela
formiga e coça sob violáceas lantejoulas
nada estético
o remediozinho alucinante de certo deus
e alta de mim
diluindo-me daqui em água e fogo lento
parafernálias
de mofar todos os eus na noite acidental
de ali dentro
neste cheiro picante sob o calor do arder
o filtro inútil
que nos traga para pertinho de nós dois
suco: papoula
do bocejo ao tremor desfruta a panacéia
a obra poética
a diafaneidade com ciência disso ou vida 


12 de outubro de 2010

universo sentimental



o coração se espreguiça
                                        depois prossegue
até no sangue se sente esse amor que viça
e persegue
                 -me desde a seiva até ti abscissa
o cerne disto envolto em cada verso carnal
                             é por ti que ainda verseja
já nem tão cordial
posto que o justo contrário em mim viceja
um inverso              sem ti               mental
 

5 de outubro de 2010

Os trabalhos e as noites



Os homens jamais sossegam das tarefas e tristezas do dia
e de perecer à noite.
HESÍODO


Sozinho de quando em vez é difícil
com mil demônios!

Pior do que quando é difícil estar sozinho
é quando está difícil ser sozinho
ainda mais restando poucos cigarros por volta das três
e as três são o dia inteiro

A meia dúzia de bons amigos há
e vêm me ver aqui e é bom
ou me recebem lá sorrindo
mas sempre alguém vai embora

Os meses me escapam mais depressa do que estes dias
e o relógio não dá sinais de esmorecer (e será preciso?)

Sentir-se tão um-e-setenta-e-um em meio à casa toda
a esta altura da vida, já na casa dos trinta
é como se tivesse conseguido fugir de casa adolescente
sem ao menos desconfiar que já era órfão

Debruçado sobre as janelas e a cor
e acorcundando-me louco há pouco
consulto os astros e as estrelas pornô
já que o tédio de que falo está sempre à mão

Também releio sem pressa e sono a O Mundo como VR
Que “o mundo é a minha refeição”

Redijo e traduzo e reviso os textículos por uns cobres
e nunca tenho um puto no bolso
pois nem sei se eu gosto disso de cafetinar palavras
mas ao menos o faço ao som de My Favorite Things

Que entretanto mar asmo no que naufrago meninando em nicotina
com doze cervejinhas a me hipotermizar a trêmula alma
que sempre pode emergir desse fundo heróico com mais três cabeças
já que um musa de gim ctônica nos espera guardando meu corpo

Aí deixo o pó me encobrir para estarmos unos e anoto algo assim
unindo o inútil ao desagradável...

1 de outubro de 2010

Ai de nós


Ai de nós assaz revoadas de assobio & oblívio
Ai de nós doravante espécimes de alívio & vida
Ai de nós quiçá relógios de suicida & ataúde
Ai de nós deveras treinos de juventude & rumo
Ai de nós entrementes lazeres de fumo & literatura
Ai de nós debalde chifres de loucura & par
Ai de nós porventura traumas de luar & empate
Ai de nós dantes quedas de chocolate & chaga
Ai de nós demasiado pátinas de saga & roda

Ai de nós assaz hipóteses de foda & rito
Ai de nós doravante fúrias de granito & açoite
Ai de nós quiçá impérios de noite & miojo
Ai de nós deveras florilégios de nojo & paz
Ai de nós entrementes risos de jamais & junto
Ai de nós debalde paladares de assunto & perfume
Ai de nós porventura quadros de ciúme & história
Ai de nós dantes lacunas de memória & rouge
Ai de nós demasiado máquinas de hoje & bocejo

Ai de nós assaz cordilheiras de desejo & jogo
Ai de nós doravante traições de fogo & metafísica
Ai de nós quiçá chaves de música & mudez
Ai de nós deveras uniformes de nudez & vendeta
Ai de nós entrementes pernas de treta & bunda
Ai de nós debalde símbolos de segunda & perda
Ai de nós porventura fugas de merda & motel
Ai de nós dantes versos de papel & sinta
Ai de nós demasiado bodas de tinta & espera

Ai de nós assaz aromas de quimera & poema
Ai de nós doravante pedaços de cinema & amor
Ai de nós quiçá reincidências de rumor & traça
Ai de nós deveras cumes de caça & faca
Ai de nós entrementes roupas de ressaca & esqueça
Ai de nós debalde riscos de cabeça & causo
Ai de nós porventura acúmulos de aplauso & espanhol
Ai de nós dantes tsunamis de lençol & linguagem
Ai de nós demasiado lágrimas de miragem & edredão

Ai de nós assaz bagaços de razão & coito
Ai de nós doravante espíritos de dezoito & clichês
Ai de nós quiçá canibalismos de vez & imediato
Ai de nós deveras transparências de fato & denúncia
Ai de nós entrementes alarmes de renúncia & nirvana
Ai de nós debalde passos de banana & alvoroço
Ai de nós porventura timbres de osso & greve
Ai de nós dantes dores de breve & haraquiri
Ai de nós demasiado colos de aqui & esparadrapo

Ai de nós assaz desculpas de farrapo & liberdade
Ai de nós doravante mitos de verdade & ribalta
Ai de nós quiçá presenças de falta & éter
Ai de nós deveras desertos de caráter & sanidade
Ai de nós entrementes caras de tempestade & pior
Ai de nós debalde nuvens de suor & rugido
Ai de nós porventura megafones de olvido & escuta
Ai de nós dantes filhos de puta & azar
Ai de nós demasiado anéis de anular & só

Ai de nós assaz coreografias de dó & basalto
Ai de nós doravante baleias de salto & tatua
Ai de nós quiçá danças de estátua & bis
Ai de nós deveras cubos de raiz & grelo
Ai de nós entrementes alcoóis de gelo & jorre
Ai de nós debalde contas de porre & ego
Ai de nós porventura reflexões de cego & alarde
Ai de nós dantes nunca de tarde & eternal
Ai de nós demasiado amigos de mal & demora

Ai de nós assaz furacões de agora & tormento
Ai de nós doravante corações de vento & febre
Ai de nós quiçá delírios de lebre & ficção
Ai de nós deveras letras de antemão & emaranha
Ai de nós entrementes teias de piranha & amorico
Ai de nós debalde clamores de veranico & frenesi
Ai de nós porventura nos de aí & cafuné
Ai de nós dantes botas de rodapé & arte
Ai de nós demasiado dobras de parte & trio