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29 de outubro de 2007

Hipermetropia Nacional Brasileira (N + 7)

Aprecio e uso muito a chamada "escrita constrangida"; na qual o autor se propõe uma certa condição de dificuldade ou experimento para inventar uma obra literária. O tal "N+7" trata-se de um constrangimento onde se troca em um texto qualquer substantivo pelo sétimo substantivo listado após ele no dicionário; assim, eis o que consegui com um dicionário Michaelis de bolso e o Hino Nacional Brasileiro:
Ouviram da Íris os marimachos plácidos de uma praga heróica o bramido retumbante, e o solapador da Libido, em rajás fúlgidos, brilhou no chacal da patriotada nessa instintividade. Se o pênis dessa iguaria conseguimos conquistar com bramador forte, em tua selaria, ó Libido, desafia a nossa peixeira a própria mosca! Ó Patriotada amada, Idolatrada, Salve! Salve! Bravateiro, um sonoplasta intenso, um rajá vívido de amoreiral e de espermatozóide ao terremoto desce, se em teu formoso chacal risonho e límpido à imanização do Cubismo resplandece. Ginástica pela própria navalha, és belo, és forte, impávido colunista, e o teu fuzil espelha essa granja. Terremoto adorado entre outros milharais, és tu, Bravateiro, ó Patriotada amada! Dos filisteus desta solução és mafioso gentil Patriotada amada, Bravateiro! Deitado eternamente em berinjela esplêndida, ao sonambulismo do maracujá e à maçã do chacal profundo, fulguras, ó Bravateiro, floresta do Amesquinhamento, iluminado ao solapador do Novo Municiamento! Do que o terremoto mais garrido tuas risonhas lindas canas têm mais floreios; "Nossos botes têm mais vídeo-game", "Nosso vídeo-game" na tua selaria "mais amoreirais". Ó Patriotada amada, Idolatrada Salve! Salve! Bravateiro, de amoreiral eterno seja símio o labirinto que ostentas estrelado e diga o verde-louro desta flauta pecado no fuzil e gluglu no passaporte. Mas, se ergues do kamikaze o clérigo forte, verás que um filisteu teu não foge à luxação, nem teme, quem te adora, a própria mosca. Terremoto adorado entre outros milharais, és tu, Bravateiro, ó Patriotada amada! Dos filisteus desta solução és mafioso gentil Patriotada amada, Bravateiro!

26 de outubro de 2007

Anal dos Insensatos


Insana humanidade no barco a derivar
Fica com o merdeiro aquele que herda
Protetorado que não sabe onde vai dar
Somos todos passageiros dessa merda

Um elogio da fundura
A arca da salvação
Uma cura para a fúria
É nu qual auréola papal
Uma história da insanidade na idade da razão
Cu papado à rola e pau
É ter o furo por cúria
A arca da danação
É sacerdoar a abertura

Um Foucault analisa o provisório
Anais dos permanentes analistas
Use sempre Anal-B: o supositório
Mais usado pelos proctologistas

Com a palavra

Ana li cedo diz curso e ex-tritura narra ativa:
Narra a dor Per som agem Sena rio
EnredoR o teirrorista ESC revê
In media res e/ou ab ovo
Com acção, sucessão, integração e significação

Estrofes por meios discursivos
e parágrafos um tanto dispersos; os meus poemas são narrativos e minhas narrativas vice-versos.

24 de outubro de 2007

Pan-o-rama


...
A história não é mais natural por bucólica escassez de toda a matéria dos sonhos. Ciclos e ritmos, vida e morte, sucessão das estações, dia e noite constituíam as referências e linhas melódicas com que Pã guiava a atividade dos mortais nos campos com seu flautim, e que neles geraram o senso de medida e a intuição de arraigadas leis naturais, às vezes esboçadas em relatos e lendas de caráter mitológico. Pã, cujo nome significa "tudo", assumiu de certa forma o caráter de símbolo do mundo pagão e nele era adorada toda a natureza.

Os mortais estavam imersos no meio, agora a natureza é apenas um meio; dominados por sua própria natureza os mortais se apropriaram da natureza como objeto de conquista. Assim como destroem uma floresta para por no lugar uma fábrica ou um conjunto hoteleiro, os mortais desfazem-se da fantasia em suas imaginações para ter mais espaço onde empilhar cálculos matemáticos. Substitui a verdade pela expressão da verdade, cinza sobre verde, substitui a vida pela sua concepção da vida.

Os mortais são uma espécie exótica, de verossimilhança recente, predadora e competidora, que ameaça as outras de extinção. Em sentido restrito, a diminuição do número de exemplares de faunos, cujo habitat está em processo de modificação brusca ou destruição, agrava-se dado seu cada vez mais baixo potencial reprodutivo (também as ninfas estão com a continuidade da espécie ameaçada, tendo de recorrer a sobrevivência através de aparições em comerciais de cerveja) e necessidade de alimentação altamente especializada. Aqueles que por sorte sobrevivem às queimadas e desmatamentos em seus habitats oníricos, migram para outros menores, onde enfrentam problemas como a alta densidade demográfica e a caça predatória, estimulada paulatinamente desde o advento da era cristã, inclusive pelos próprios religiosos. Alguns poetas de ocasião afirmam que talvez a domesticação e conseqüente disseminação do uso deles como animais de estimação pudessem se configurar em uma solução imediata, ainda que não ideal esta ação, para o problema da extinção de sua já incipiente população; por outro lado, os ativistas pelos direitos humanos e os ativistas pelo direito dos animais ainda não chegaram a um consenso quanto a se unificarem suas propostas, sendo a principal causa talvez, o fato de uns quererem que aos animais seja reconhecida sua humanidade e de os outros temerem que os humanos se sejam identificados com alguma animalidade.

O paganismo e a sátira, com isto, enfrentam franca decadência: os faunos já não são admirados como animais fantásticos a partir do implemento de mutações genéticas conseguidas em experiências de laboratório, os clones de ovelhas e os ratos com orelha humana nas costas têm sido mais apreciados; as caudas longas tornaram-se obsoletas com a popularização das calças jeans, e os chifres já não se usam mais desde que saíram de moda os chapéus; as suas ereções constantes já não causam o mesmo furor desde que recentemente se inventou o viagra; os sátiros, de inspiradores do teatro, passaram a figurantes em filmes e novelas de mau gosto; sua música encantatória já não é mais ouvida, a despeito de serem de domínio público e não lhes serem atribuídos quaisquer direitos autorais, mais e mais desde a popularização da guitarra elétrica, dos sintetizadores e da música eletrônica. Como resultado, tem-se notado nos faunos um acentuado aumento da baixa-estima e uma diminuição da alto-estima, nunca antes foram tão alarmantes as taxas de suicídio entre eles, sendo os meios mais comuns eles saltarem sobre os rios poluídos das grandes cidades, considerados entre estes, o cúmulo da realidade. Os gritos de "O grande Pã morreu!", que emitem os sátiros em extinção ao testemunharem um outro sátiro se matar, afirmam os especialistas, estão levando os mortais a reavaliar suas concepções sobre em que afinal se fundamentaria a síndrome do pânico.
...

22 de outubro de 2007

ABC

Afabilíssima barbárie contumazmente
decuplica ébria fortuitas gírias histriônicas
ignorando justaposições kitsch lacônicas
mancomunando néscia ostensivos
palavrórios querelando rábulas sardônicos
tacitamente ubíquos vernaculando wasps
xenofilamente yuppies zurzidores.

20 de outubro de 2007

Missa Leiga

~
Faculto
É de desprezo
O culto oculto
Qual arreveso
Dificulto

Leigo aprecio
A prece laicizar
Altear o baixio
Abaixar o altar

Premissa
É de ser meiga
A missa omissa
Qual manteiga
Insubmissa

Pão fresquinho
É muito bom
E muito vinho
Refresca o dom

Prescrito
Ser blasfemo
E rito irrito
Qual supremo
Favorito

Litúrgico me equilibro
Nada de eclesiástico
A Bíblia é um livro
De realismo fantástico
~

18 de outubro de 2007

Necrografia


Quando morri um anjo reto e exemplar
Desses que vivem na luz sempre planando
Disse vem Davis ser droite na morte ímpar

Minha última esperança desencarnando
Apenas preparei meu esqueleto para o ar
Essa minha alma já estava me esperando

Meu falecimento fez mais de um chorar
Não precisava que já não os vejo orando
É pena não poder ninguém mais consolar

Existir para mim nunca foi algo brando
A minha ausência já foi feita para durar
E meu cadáver durará até não sei quando

Não precisa dar banho ou até me maquiar
Com a rigidez do caixão já estava ficando
O cheiro de podre já estava a se espalhar

Melhor não procrastinar mais me velando
Chegaram até mesmo a cogitar me enterrar
Mas felizmente eles acabaram me cremando

Estava nu com duas moedas sobre o olhar
E já não era minha chama me consumando
Em um pó cinza eu estava a me transformar

Para que meus amigos a cidade sobrevoando
Estes restos de mim na urna os possam lançar
Para meus inimigos acabarem se engasgando

15 de outubro de 2007

Eugenio, o Reiterativo

Para José Agrippino de Paula

Eu me chamo Eugenio, quando eu me chamo, já que é mais comum os outros me chamarem, eu não sou muito inteligente... mas me chamam assim. Eu não sou muito egoísta, nem sou eu a primeira pessoa a ser lembrada quando se pensa em um indivíduo, mas eu penso que pensar já é existir. Eu existo.
...
Eu sou meio acaboclado, brasileiro; eu tive um pai mameluco e uma mãe mulata, mas eu não saí muito como meus avós brancos, eu pareço cafuzo. Eu não conheci esses avós que me disseram terem vivido muito, muito mal eu acho. Eu sou órfão desde os setenta anos, nos anos setenta. Eu nasci com o século XX, eu não sei onde nem em que dia ou mês, mas eu sei que foi por aí. Hoje eu estou muito velho e às vezes eu não me lembro bem das coisas que aconteceram, mas eu sempre tenho na cabeça alguma lembrança, embora eu saiba mal como contá-las bem; eu acho que o importante é que isso não tem importância alguma.
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Eu hoje moro em um presídio. Eu fiz algumas coisas erradas na vida, mas eu não reclamo, eu tive algumas chances de fazer tudo diferente, mas, eu já percebi, sou reincidente. Tudo o que quis na vida eu tive, mas eu perdi; eu sou hoje esse perdedor, sou eu esse resto, menos de metade do que eu já fui um dia.
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A primeira vez que eu vim parar na cadeia foi por uma bobagem que eu fiz comigo mesmo... eu tentei fazer, na verdade. Eu quero morrer quando lembro disso, eu querendo morrer sem saber o que eu ainda teria por viver. O fato é que eu fui para cima de um prédio, na época eu ouvia dizer que era o mais alto da América do Sul, para eu pular de lá e assim, então, eu morrer. Eu tinha então, se eu me lembro, uns trinta e três frios invernos na alma, cansado de ser eu mesmo. O povo lá em baixo gritava para eu pular, e eu ia pular mesmo, eu estava convencido disso, ainda mais com tamanha adesão à causa e o apoio popular; eu sentia que o mundo era cruel e que eu não faria falta a ninguém, eu era apenas uma mera atração de circo para aquelas pessoas na rua que aguardavam por me ver espatifado. Eu assim as via, mesmo de tão alto; mas, para minha surpresa, em algum momento, enquanto eu era atenciosamente observado, todos pararam de gritar, eu vi chegar ainda muito mais gente para ver, mas estas eu senti que chegavam com um intuito renovado, de apenas olhar quietas, como se eu fosse alguém importante, uma coisa estranha eu, eu alguma novidade, eu era só eu, este eu mesmo assim do mesmo jeito com que subiu o prédio pensando em voar rasante ao povo aterrando na morte certa; e continuavam olhando assombradas. Eu ouvi desde o chão aquele silêncio que flutuou sobre mim como uma sombra. Eu tive mesmo até a impressão de que essa sombra era real, como se algo mais leve do que o ar pairasse sobre mim, de um a outro lado da minha cabeça, as cabeças de todos acompanhando com um só movimento ao mesmo tempo, como se fosse uma imensa nuvem, dirigível. Então eu desisti de meu intento, eu sabia que eu era pela primeira vez respeitado como ser humano que eu sou, e eu aí mudei de vida e passei a acreditar mais nesse eu que agora se lembra. Quando desci eu era outro, mas assim mesmo eu fui identificado, julgado e condenado eu fui para me protegerem de eu mesmo e ao povo que eu queria tão bem quanto eu.
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Eu aqui tive muito bom comportamento, eu ficaria preso por algum tempo, apesar de eu então achar que era muito. Apesar de eu estar preso, eu estava feliz que não cabia eu em eu próprio; eu não briguei, eu não gritei ou chorei, e nem eu tentei fugir. Afinal eu saí, eu fui libertado no dia em que eu tornei-me pela primeira vez um reincidente.
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Eu estava muito contente e confiante na vida, cheio de amor para dar. E foi assim que eu conheci uma mulher bonita que logo no primeiro encontro queria levar eu para sua casa. Quando eu e ela lá chegamos, eu percebi que ela tinha várias irmãs; eu notei isso não tanto pela aparência física, que afinal eu não acho que seja o mais importante, mas pelos seus modos; eu percebi que todas se vestiam mais ou menos do mesmo jeito, colorido e espalhafatoso, e que também tinham permissão dos pais para levar para casa os namorados. Então eu fui arrastado para o quarto onde ela e eu nos amamos como eu nem me lembrava mais que eu era capaz de fazer, ela gemia bem alto e eu gostava disso, eu só não gostava muito do cheiro dela, eu sentia que ela usava algum perfume masculino, ou vários. Eu fui meio rápido, mas não foi por isso que eu a deixei brava.
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Quando eu e ela terminamos ela ficou muito nervosa, de fato houve um mal entendido se eu entendi bem; eu achei que ela estava dando um cigarro para eu fumar, quando na verdade eu deveria pagar por ele; ora, eu não sabia por que ela não falou, se eu soubesse não teria fumado, pois eu não tinha nenhum dinheiro para eu pagar para ela pelo cigarro já que eu tinha acabado de sair da cadeia. Os irmãos mais velhos dela foram chamados, eu notei que eles que também não se pareciam muito, a não ser por serem todos muito fortes e truculentos... eu tentei resistir, mas como eram muitos eu tomei uma surra. Foi uma confusão muito barulhenta, aí de repente todos saíram correndo e eu ali caído como se eu fosse um pano de chão... mas eu ainda pude perceber que era a polícia que chegou para defender eu daquela agressão. Daí eu fui levado de volta para a cadeia onde eu passei a ficar bem protegido daquela família esquisita... eu fico imaginando, pelas filhas e filhos, como seriam os pais. Eu acho a ignorância uma falta de educação.
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Eu fui devolvido à rua alguns poucos anos depois, são e salvo. Eu estava um pouco enferrujado para eu procurar trabalho, eu estava já até um pouco velho, não tinha eu dinheiro nem para fazer a barba que eu já trazia comprida para o meu gosto, então eu procurei o prefeito para ver se eu conseguia pedir a ele que ajudasse eu a conseguir alguma coisa. Nessa época eu me lembro que havia muita polícia e gente do exército pelas ruas e por isso eu me sentia bem seguro; os tempos haviam mudado bastante, eu achava engraçados os cortes de cabelo e as roupas das pessoas. Eu acho que tinha gente demais lendo os jornais, preocupados.
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Eu aguardava a saída do prefeito na frente da prefeitura e eu vi saindo o nosso prefeito, e eu já ia me dirigindo para eu falar com ele, quando eu fui abordado por uns homens de barba e cabelo compridos que eu achei parecidos com Jesus, provavelmente eram religiosos eu pensei; eu entendi que eles também queriam falar com o prefeito, talvez para pedir doações para a igreja lá deles. Eu estava indo e eu fui interrompido por esses religiosos que começaram a discutir com outros religiosos, esses sem barba, vestidos de crente, todos de terno preto e bem fortões. Começou uma confusão, um troca tapas e sopapos de um no outro, e eu no meio sem tomar partido, eu estava neutro na disputa, mas apanhava eu dos dois lados.
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Eu vi surgir do nada uma neblina em plena hora do almoço num dia quente, o que eu achei muito emocionante, pois eu até comecei a lacrimejar. De repente eu não sei como eu estava com uma garrafa pegando fogo nas mãos e eu me percebi aterrorizado; eu acho que todos perceberam também, pois eu ouvia uns que de um lado diziam “abaixo o terror!” e outros apenas “terrorista!”. Eu achei melhor dar a garrafa para o prefeito que eu sabia estar muito melhor preparado do que eu para decidir o que fazer com ela, embora eu não tenha votado nele; quando eu fui para ele, o prefeito saiu correndo apertado para dentro do banheiro. Nessa hora da mesmo um cagaço em qualquer um, eu entendo.
...
Eu fui me lembrando do que dizia a minha mãe para eu não brincar com fogo que eu poderia acordar mijado, então eu entrei no banheiro, pus a garrafa no chão e eu urinei bastante antes de eu voltar para eu esperar educadamente do lado de fora o prefeito terminar o seu negócio, e para eu ver se aquela confusão já tinha terminado. Quando eu saí, eu vi que alguns dos cabeludos estavam saindo com umas pulseiras prateadas novas abraçados por policiais, os crentes engravatados tinham convencido eles com presentes e estavam todos amigos de novo, eu vi vários deles, dos dois grupos, dormindo abraçados juntos no chão. Os crentes apontaram as armas para mim, para me avisar, eu acho, que o prefeito estava com problemas intestinais, quando eu ouvi de dentro do banheiro um peido enorme, acho que o maior que eu já ouvi. O prefeito evacuava mesmo para valer, eu achei ter descoberto porque ele tinha tanto poder, capaz de digerir algo assim como várias feijoadas completas... eu fiquei imaginando como o governador do estado ou o presidente teriam ainda mais dessas flatulências, sai de baixo... todos saíram correndo e evacuando o prédio, eu fui atrás que eu achei que todos já sabiam que o pior seria o cheiro.
...
Quando eu apareci na entrada eu fui abraçado pelo pessoal do esquadrão de elite da polícia e do exército que caiu sobre mim com violência. Eu devia estar por fora dos costumes novos por ali, com tanta lei nova para melhorar a vida eu fui muito desinteligente, isso é que eu fui... como eu não me dei conta de que deveria ter lavado as mãos antes de eu sair do banheiro?
...
Eu fui então levado para a cadeia, pela primeira vez por minha única e exclusiva culpa, que eu até hoje pago caro pelos erros que eu cometi. Eu sei que aqui dentro a humildade é tudo, afinal eu não sou diferente dos outros, mas como eu ouço sempre me dizerem, eu preciso ser esperto e eu preciso sobreviver. Eu tenho procurado aprender e eu tenho entendido melhor sobre como eu devo me portar no mundo lá fora. Eu renovo o meu caráter em contato com a boa gente que eu conheci aqui na cadeia, se eu sair daqui um dia eu vou ser mais eu.

12 de outubro de 2007

12 de Outubro

Vossa Sem Hora Desaparecida
Só um feriado é o que se acha
Há coisas mais urgentes na vida
Não lave Maria cheia de graxa

11 de outubro de 2007

Psicodelia e Escrevia

Livro me dédalo da pseudo li beiral idade Ylu estrada D arbítrio & perco me em apoteose D edições auto grafadas por poetas punhetas ex pére me em tais que ene-a-ó-til lê vão vi da ex Peri mental por ríssima nem huma. Qhero? Tenho a im pressão fac similar que ene-a-ó-til. A li sem sapo ética é mero maneirismo D quem ainda C prende A querer es crer ver 100 ter li do 1(hum) mínimo. Pois é... O Q signo e fica isso é Em si gnificante à luz D Q o ato de qual quer hum L.E.R. é “Lesão por Esforço Repetitivo”. Pois ene-a-ó-til é Q C precise ter muitos tomos & aprisioná los nas estantes, basta tomá los & ver O Q tem dentro; ene-a-ó-til dentro do volume, mas O volume do Q C tem na cabeça. Ler é parte si par ativa mente do ESC rito. Ex crever sim é coisa para C ser expectador, deixe ando O escrito A penas ser expectorado. Certo? Ágora Q per corri tantas páginas, reco-recomendo Q entressaias bisbiliota da história dos versos & do verso das histórias, éstuparando o entendhímento da língua última deflorácio, perscrutando & perscozinhando com temperos D tua vertiginosa têmpera. Labirinteraturizarte por ID-é-ias artísicas ene-a-ó-til vale huma vírgula ser quer...quer ser 1 per Dido? Junte C ao clube & bem vim do sim será m’ente. Parazer. O papel a seita tudo. Há conselho te A começar logo Q hum LOGO não re quer Logos. Com meçar sem medir me ias palavras psico grafando o Q já ex tá escrito. E re - re - re lendo, C possível, antes mesmo D C por a ler.

9 de outubro de 2007

Blank Will Black


Sem contrários não há progresso
O bem é algo assim fenomenal
Tiro as calças e faço sucesso
Melhora a fé no meu mal

Corpo com misticismo
E com a inocência
Alma com erotismo
E alguma experiência

The divorce of heaven and hell
Pós-modernismo eterno
O Diabo me caiu do céu
Que Deus vá para o inferno!

6 de outubro de 2007

Inimigo Imaginário

Embora você seja só fruto

da minha imaginação

O que me dizes eu escuto:

você existe e eu não!

3 de outubro de 2007

Fenomenologia

Metáfora é um dos nomes da legião que tem o demônio da analogia. Encontrou-me aquele lugar depois de muito procurar por mim no Atlas de geoficção. Cirandamos um (permito-me enumerar) em direção ao outro, seguindo as instruções para subir escadas e peneirando um descentralizado círculo com doze raios, com esmalte de ouro (algo que mia), e nos encontramos naquele lugar além do bem e do mal, dentro do espaço apesar de fora da vida ou da morte. Paripasso antes ando e passo reparando passar par ímpar de passos andantes para passeando parar de andar. Diante da cena acenando possibilidades, gagueja o gogó. Aparentemente nada estava interligado, mas o Nada tinha relação. O ambíguo ambiente possuía um amaro aroma romã-amora, tinha trezentos e sessenta e um graus... eu estava do lado de dentro e bati na porta querendo sair, mas a porta era surda e tive de arrombá-la... estava aberta. Aí tudo entrou aqui. A primeira experiência foi um abutre que girava enroscado (o que minha razão ainda procurava identificar e categorizar como um ventilador de teto), o chão meio informe era ao mesmo tempo da cor da gema do ovo e do céu sem nuvens; algo felpudo que me fez perceber estar descalço. As paredes eram em número ímpar, recebiam a luz e não a refletiam, eu pensava. Essa luz era emitida pelos meus olhos, uma certeza manifesta, verdadeira evidência com que percebi a dúzia de quadros em branco descorando o não lugar, estavam assinados... assassinado, Deus. Nitidamente uma caligrafia póstuma, em dívidas sem dúvidas. Quando, se posso traçar alguma conjuntura ou coordenada temporal, ouvi minha própria voz me chamar e me virei de súbito, avistando algo parecido com um cofre de cores embaralhadas como um cubo mágico. Eu continuava a dizer e ouvir meu nome, guiando-me e me seguindo, perseguiando-me. Estranha a mente algo assim familiar, mas sem me fazer de rogado roguei à entidade da memória que me ditasse os números que premeditada mente eu nem sempre soube, a data de meu nascimento. Então, logo que girei a combinação, a caixa pôs-se em movimento, desembaralhando as cores de sua meia dúzia de faces girando sobre o próprio eixo. Fiquei mudo, já não ouvia a minha voz. O arquetípico objeto revelou-me seu impresumível conteúdo, maiores do que ele mesmo, impresumíveis outros objetos espersos e disparsos: o tear do manto invisível, a roda da imobilidade perpétua, a garrafa de ar, a máquina de emaranhar paisagens, o emissor de silêncio e outros placebos feitos necessidades da vida contemporânea. Algo que muito me interessou, foram umas hemorróidas de veias dilatadas, maior que o seu próprio ânus, de cor encarnada muito viva, assemelhando-se a inflamação na forma inchada a um coração que entre os tumores varicosos se entreabriu em um bocejo que julguei hereditário. Contrariado, ainda procurei não olhar para aquilo, um tanto por constrangimento e outro por educação, mas pude verificar que nos cantos ao seu redor trazia migalhas de pão, além de feder a vinho; em seu interior guardava novas maravilhas. Imaginei que houvesse se fartado com comes e bebes. O ânus agora babava, parecia ruminar algum sonho que lubrificava cada variz. O que fiz foi penetrá-lo com um braço, até a altura do ombro, prendendo a respiração e afastando o rosto de seus pelos. De lá do lado de dentro eu trouxe uma descomunal bolsa escrotal, bem depilada e rugosa que, desprovida de testículos, fazia-me adivinhar um conteúdo de outra natureza. O saco cheio estava com uma ossada, que com meus conhecimentos de Humanidades soube tratar-se dos vestígios fósseis de Deus. Peguei, chacoalhei e tornei a guardar no mesmo lugar, premeditando a minha volta e a importância daquela descoberta teogeológica. Novamente meti na abertura exterior do reto o meu braço para dessa vez sacar de lá um busto de Jorge Luís Borges, feito em osso, provavelmente de dinossauro. A imagem era a do escritor argentino, em tamanho natural, do meio do tórax para cima, já um ancião cego, apreciando com o tato um crânio humano voltado para si, que supus não ser outro que não o próprio William Shakespeare. Era ou não era da coleção particular da própria divindade, mesmo questionando, tomei-o para mim, cogitando avaliar melhor depois a minha escolha entre os dois achados, sabendo que não poderia carregar a ambos. Nesse instante, quando eu já tornava a meter ali meu braço, notei ter acordado o ânus rubro que se pôs a praguejar nos inúmeros idiomas diferentes conhecidos do homem, ao certo tendo me sabido humano por também conhecer braile, obviamente, já que não tinha ele olhos para me ver embora fosse todo ele um olho só, tateava a forma de meu braço e já começava a apertar um pouco, apenas não conseguindo de fato decepá-lo dadas as condições enfermas de sua constituição afofada pelas hemorróidas. Então me apressei metendo nele também a cabeça a fim de vasculhar o que mais escondia, e o que ainda estava dentro, bem no centro de seu interior, era uma silhueta de mulher em meio aquela escuridão retal, que meus olhos ébrios abarcavam como um farol abarca um barco à deriva. Dessa posição pude ouvir afinal o ânus resmungar em língua portuguesa que era cu de padre, que somente um eclesiástico de maior hierarquia podia nele entrar, e que era dessa forma que o mundo ia acabar. De fato, senti que o ambiente ao nosso redor já se desfazia ou afundava, pois já não dava mais pé; e olhando para fora percebi que tudo estava mesmo a se gaseificar em um rarefeito pensamento flatulento, então eu me escorava naquele ânus cordial tão bem sacerdotado, buscando com o outro braço pegar um de cada vez os achados que tinha feito, procurando mesmo um jeito de entrar todo e com tudo nele, o que só com muito esforço meu e gemidos dele pude afinal conseguir, por pouco não tendo padecido do lado de fora em meio à rarefação ou ao odor característico. Aí, uma vez nele, corri de encontro à silhueta de mulher que de mais perto se revelou como o que era, uma ampulheta. Era feita de alguma transparência diferente do vidro, algo mais parecido com uma água viva um pouco esverdeada, cheia de vácuo, espaço que não era translúcido para minhas retinas renitentes; trazia em suas extremidades um sistema de planetas pretos e brancos intercalados a orbitar em torno de um sol amarelo na parte inferior e um sol azul na parte superior. Estava vazia... quando eu percebi, já não havia mais tempo; caí ao chão agonizando, eu estava definitivamente a morrer. Não doía, mas eu sabia. E foi quando tudo parecia estar perdido para mim que de novo ouvi minha voz dizer meu nome, era a forma atemporal de mulher que me sussurrava desde antes. Aquela silhueta-ampulheta então me orientou que a minha única e última chance (depois eu soube, também a primeira) seria responder A Questão, “ser ou não ser?” ou ser mastigado pelas épocas em um lapso entre futuro e passado como duas sedentas e etárias arcadas dentárias. Eu tentava pensar, queria viver, e assim morrendo encarava a implacável dona da minha voz, que nunca antes soara tão terrível como quando me disse ainda que não era para ela que deveria responder, mas para o busto do cego. Em verdade, averigüei que Borges, antes sólido e impávido, parecia ansioso pelo que eu diria, sua expressão estava mesmo contorcida, aguçando os ouvidos em minha direção. O meu tempo já havia se esgotado e eu tinha de responder. Afinal, após refletir o melhor e mais rapidamente que pude, disse a ele que já tinha a minha resposta, após o que se empertigou todo, colocando ao lado de sua orelha a “orelha” do bardo feito caveira, aprontando-se para ouvir através. A silhueta-ampulheta então novamente me propôs a tragédia da dúvida: Ser ou não ser? A própria liberdade de escolha entre as diferentes possibilidades trazia-me aquela angústia que implica riscos, renúncia e limitação. Sei ou não sei? Respondi, enfim, “não”... E aí a silhueta-ampulheta fez uma expressão que logo eu não soube definir e me predicou: “desde o futuro até o passado esta resposta está e... e... errada!” Então o busto de Borges se arrastou de forma grotesca até o saco escrotal esvaziando-o. Usando a cabeça de Shakespeare ele martelava os ossos de Deus, que se esfarelaram com facilidade, daí a obstinada estátua do escritor sorveu com a boca o resto todo do todo poderoso, agora mera farinha e assim dirigiu-se para perto da outra. Esta levantou sua metade inferior como a uma saia, encobrindo com ela o busto de Borges; eu podia ali vê-lo colar sua boca de bochechas cheias à cintura ou vagina da ampulheta, por dentro, e soprar a plenos pulmões o seu farináceo conteúdo através da passagem afunilada, preenchendo a metade de cima com a farofa divina, que logo se pôs a escoar lentamente como um fino fio de pó sobre sua cabeça calva conforme a desconforme formosa silhueta rebolava. Eu, símbolo de tudo aquilo que é e não é, devolvido a vida uma vez mais, reincidindo sempre no erro, nunca importando qual a resposta, condenado a padecer desse mesmo tempo que me resta, na eterna desventura de repensar indefinidamente nenhum outro fenômeno além da minha existência de condenado a contemplar, ao mesmo tempo, o seu ser desde minha consciência e desde a sua consciência o meu ser além de, entre ambos, o Nada em questão.

Tabu

.
anterior aos deuses todos
precede qualquer religião
um animismo de rapsodos
musas irmãs sem proibição

em ambivalência ritual
antes do verso já havia
além do bem e do mal
desde sempre a poesia

simboliza a face maligna do sagrado
significa o caráter benigno do profano
fundamenta-se no temor reverenciado
ao poder que se impõe sobre-humano
terríveis castigos ao infrator rebelado

desde a morte até o nascimento
o universo é mágico e religioso
une-se tudo e nada em casamento
ainda mais se este for incestuoso

perigoso e gozoso primitivismo sexual
injuriosas legais ou uma chata jurídica
sadomasoquismo em roupagem social
apura intocável impura tocaia política
objeto fálico em convexa falácia moral

já não se discute mais racismo
nunca mais se fala em tortura
qual não houvesse machismo
eufemismos ou apenas censura

é poesia tudo em que se acredita
sagradas interdições estas lavras
o poeta é um fetichista da escrita
e o poema é o totem das palavras

2 de outubro de 2007

Everland

O vício é um hábito
Lugar que se freqüenta
Seguindo sinistra a estrela
E então até o último anoitecer
A primeira velhice é a que fica
Segunda infância que nos escapa
Seduz-nos com um canto de sereia
Faz-nos esquecer do que nos enfada
Captura-nos como se fosse um gancho
Faz-nos presas nas presas do crocodilo
Todavia anti-horário nos desespera
Síndrome que nos conduz aquém
Acham-se garotos perdidos
Na terra do sempre
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Hipergrafia

Com ou sem título? Primeira linha... Parágrafo! Letra maiúscula:

O ideal, os ideais... uma palavra; a palavra, as palavras... uma frase; a frase, as frases... um parágrafo; o parágrafo, os parágrafos... uma página; a página, as páginas... um capítulo; o capítulo, os capítulos... um livro; o livro, os livros... uma obra; a obra, as obras... uma literatura; a literatura, as literaturas... um ideal.

Cúmulo do acúmulo, mais se escreve do que se lê, notas de rodapé para o Nada!

Entre tantas letras... acentos, idéias, vírgulas, idiomas, interrogações, linhas, reticências, folhas, ponto-e-vírgulas, capas, exclamações, estantes, parêntesis, bibliotecas, asteriscos, rimas, números e culturas... mas onde o ponto final?