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19 de janeiro de 2006

O homem ideal sem um ideal

Ele não se acha machista, acha-se erudito, mas só erude falácias de botequim que ouve ou lê aqui e ali; reproduz frases de personalidades históricas, sobretudo as televisionáveis, que concordam com suas convicções chauvinistas. Esportes são do caralho. Usa meia na cueca e isso coça. Desdenha as mulheres como desdenha a própria mão da qual mal se desmamou. Não trepa só se masturba mas não por ideologia, por pressa. Vive repercutindo as superioridades masculinas, a contar vantagem de si próprio, levando sua insistência no mesmo assunto às raias do monocordismo, quase sempre fazendo gênero. Barba estudadamente por fazer, da altura do cabelo reco. Não ser ou cerveja? Baixos instintos na superfície, baixa auto-estima no fundo. Carros são do cacete. Cobre-se de altivez ao tentar resguardar seu mesquinho quinhão. Um maiúsculo H será seu crepúsculo. Ele é homófilo, ele é homofóbico; enrustido. Quer mesmo é dar o cú e não se permite, sangria que não admite. Obtuso no uso da razão pela qual ejacula e não consegue gozar. Fálico falastrão que oculta seu desempenho sexual anão. Apolo castrado, Édipo jamais perdoado. Em si mesmo um tragicômico atavismo. O frágil covarde, que pinta impotência com cores de intransigência, o macho se alarde.