Páginas

9 de dezembro de 2006

Duchamp e/ou Arte

Um respeitável cidadão francês tentou destruir com marteladas a obra de arte de Marcel Duchamp, exatamente aquela mais conhecida e que mais contribuiu para a fama do autor. Trata-se do mictório feito de louça branca que Duchamp colocou dentro de um museu.
Marcel Duchamp é, antes de tudo, um iconoclasta. Durante todo o tempo dedicou-se a destruir conceitos e a negar o estabelecido, às vezes com ações espalhafatosas, buscando renovar a arte e as formas de pensar. Se Duchamp pode, o cidadão francês de 77 anos também julgou poder destruir conceitos e declarou que as marteladas eram apenas uma intervenção artística e que seu trabalho seria aprovado por Duchamp. É muito possível. O que Marcel Duchamp desejava dizer quando colocou o urinol no museu? Não desejava, decerto, estabelecer novas verdades e conceitos; desejava exatamente questionar a validade dos conceitos e colocar a possibilidade de haver arte em qualquer objeto, desde que assim seja considerado. ...Difícil estabelecer um limite a partir do qual chega-se ou ultrapassa-se o exagero. O fato é que Duchamp contribuiu para o infindável debate entre o que é e o que não é arte. O homem do martelo também pode ser considerado assim. Por que não? Ele já havia mijado na mesma peça em uma exposição anterior e isso mostra que alguma coisa o provocava no tal mictório. Acabou sendo preso mas é certo que muitos artistas considerados geniais e revolucionários foram também completamente incompreendidos.

Duchamp quis "... transformar todas as pequenas manifestações externas de energia, em excesso ou desperdiçadas, como por exemplo... o crescimento dos cabelos ou das unhas, a queda da urina ou das fezes, os movimentos impulsivos do medo, do assombro, do riso, a queda da lágrima, os gestos da mãos, o olhar frio, o ronco ao se dormir, a ejaculação, o vômito, o desmaio, etc".