Páginas

3 de outubro de 2007

Tabu

.
anterior aos deuses todos
precede qualquer religião
um animismo de rapsodos
musas irmãs sem proibição

em ambivalência ritual
antes do verso já havia
além do bem e do mal
desde sempre a poesia

simboliza a face maligna do sagrado
significa o caráter benigno do profano
fundamenta-se no temor reverenciado
ao poder que se impõe sobre-humano
terríveis castigos ao infrator rebelado

desde a morte até o nascimento
o universo é mágico e religioso
une-se tudo e nada em casamento
ainda mais se este for incestuoso

perigoso e gozoso primitivismo sexual
injuriosas legais ou uma chata jurídica
sadomasoquismo em roupagem social
apura intocável impura tocaia política
objeto fálico em convexa falácia moral

já não se discute mais racismo
nunca mais se fala em tortura
qual não houvesse machismo
eufemismos ou apenas censura

é poesia tudo em que se acredita
sagradas interdições estas lavras
o poeta é um fetichista da escrita
e o poema é o totem das palavras